Porto Alegre App – Review

Recentemente, a prefeitura de Porto Alegre, em mais um esforço para digitalizar seus serviços e aproximá-los das pessoas, lançou sua primeira app para smartphone. Se trata, mais especificamente, da Porto Alegre App, desenvolvida para iOS pela Procempa.

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Esta é uma iniciativa inédita e muito interessante da prefeitura da cidade. Uma app pode trazer muitas vantagens e facilidades para as pessoas, e, se o trabalho for bem feito, o o investimento vale bastante a pena. Confira neste review um relatório com todos os pontos fortes e fracos do aplicativo, e não deixe de testá-lo você mesmo e trazer suas opiniões!

Geral e funções

A Porto Alegre App está disponível na App Store gratuitamente, e foi desenvolvida pela Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) para iPod Touch e iPhone (lembrando que ela funciona no modo aumentado em iPads).

A app tem duas funções principais. A primeira é o acompanhamento de uma iniciativa bem conhecida dos cidadãos de Porto Alegre, o Orçamento Participativo, e a segunda são informações do trânsito na cidade. No canto da tela inicial é possível se registrar, preenchendo o nome, telefone e email do usuário.

Orçamento Participativo

Ao abrir o aplicativo, a primeira tela que aparece já é sobre o OP. A partir dela é possível selecionar entre 17 regiões da cidade. Dentro de cada uma, aparecem seções temáticas, como Política Habitacional, Educação, Assistência Social etc., cada uma contendo as demandas que a população daquela região fez ao Orçamento Participativo dentro daquele tema. Dentro de cada demanda é possível visualizar a que órgão ou secretaria ela se dirige, o número da demanda, os recursos orçamentários previstos, a liberação orçamentária obtida e a situação da demanda (en andamento, em obras, concluida, em cadastramento etc.).

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Mora aí um recurso interessante: existe a opção para o usuário de reportar ele próprio o andamento da demanda. Ele pode tirar uma foto na hora e fazer upload, além de marcar a localização da foto (por meio do sistema de localização próprio do aparelho) e escrever um comentário sobre o andamento dos trabalhos.

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Além de navegar nas demandas por local, é possível pesquisar pelo número de cada demanda, ou buscar por área temática.

Trânsito

A segunda parte da app leva apenas um recurso: um acompanhamento das últimas atualizações do perfil da EPTC no Twitter (@EPTC_POA).

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Poucas funções

O principal problema da app é a falta de mais funções. Dentro do âmbito do Orçamento Participativo a proposta de acompanhar as demandas de todos os cantos da cidade é bem interessante, mas não há, por exemplo, um local onde enviar novas proposições para o OP. Se algum usuário tiver alguma demanda que ainda não foi listada, poderia enviar uma sugestão através da app, que ficaria em uma sessão específica, para não gerar confusão com as demandas existentes, e outros poderiam apoiar a ideia se concordassem. Claro, sugerir novas demandas é tarefa a ser feita durante as assembleias do Orçamento Participativo, e isto não deve ser modificado. A ideia de sugerir outras demandas seria apenas uma forma de colocar em evidência para outras pessoas necessidades e problemas que ainda não receberam atenção no OP.

O site do Orçamento Participativo é muito completo, com várias informações sobre todo o projeto. Mais destes dados poderiam constar no aplicativo, como datas das assembleias, informações (resumidas, ao menos) sobre o funcionamento de toda a iniciativa etc.

Já com relação ao trânsito a necessidade de mais recursos é forte. A conta no Twitter da EPTC tem atualização constante e boa, mas o usuário poderia dispor de mais informações sobre a situação do trânsito na cidade. Embedar a conta do Twitter no programa é uma solução prática e que cumpre seu objetivo: informa de forma rápida os últimos acontecimentos importantes no trânsito da cidade. Mas, com o tempo e mais desenvolvimento, outras soluções podes ser buscadas. Em sua sede de monitoramento, o órgão conta com muitas informações sobre os ônibus da cidade e o fluxo em geral nas ruas. Poderia haver uma seção do aplicativo com as linhas de ônibus com mais problemas de atraso, por exemplo. Ou pelo menos uma listagem das linhas, com o tempo médio de espera em dias de semana, sábados e domingos e feriados. Claro, são muitas informações, que demandam tempo de processamento e velocidade na conexão para serem acessadas, mas trariam um diferencial muito legal para a app. O aplicativo Roadify, um dos vencedores da competição New York City Big Apps, para ferramentas criadas com dados públicos na cidade de Nova York, é uma boa inspiração. Ele une informações do departamento de trânsito da cidade a informações enviadas pelos próprios usuários sobre situação do trânsito, atraso de linhas de metrô ou ônibus, entre outros. São dados úteis para quem está na correria do dia-a-dia.

Ainda sobre o trânsito, recentemente a prefeitura lançou o site PoaTransporte, que mostra todas as linhas de ônibus e lotação da cidade, além da localização de paradas e pontos de táxi. Trazer todas estas funções para a app talvez fosse ser trabalhoso e o resultado ficar pesado demais, mas pelo menos alguns recursos poderiam estar presentes.

Conclusões

Como uma primeira iniciativa dentro do mundo das apps para smartphone, a Porto Alegre App é um bom começo. É importante lembrar que ela ainda está em beta, e na própria tela de informações há o convite para que as pessoas contribuam para o desenvolvimento da ferramenta, enviando sugestões e críticas para o email portoalegreapp@procempa.com.br. O fato de ela ter sido lançada ainda durante versão de testes mostra uma abertura agradável da prefeitura: mostrar para as pessoas sem que tenha sido desenvolvida por completo, para se aproveitar do uso e das sugestões.

Valorizar o Orçamento Participativo na app, ao contrário de explorar apenas funções básicas, como em outras apps, é um diferencial bom. É interessante aproveitar este campo, e colocar mais informações sobre todo o OP. Pode-se argumentar que colocar as demandas do OP e seus andamentos em um aplicativo para smartphone é um esforço sem sentido, uma vez que quem mais se utiliza e acompanha a iniciativa são moradores da periferia, de baixa-renda, não usuários de smartphone. Entretanto, valorizar a iniciativa em uma app oficial mostra a importância do OP para o município e para a prefeitura, e traz mais legitimidade à ferramenta. Além disso, com a popularização de smartphones, cada vez mais a classe média tem acesso a este tipo de aparelho.

É necessário à prefeitura pensar em replicar a app para outras plataformas, principalmente a Android, que, além de ter uma participação grande no mercado (valendo a pena o investimento), atinge usuários de faixas de renda mais variadas.

Em resumo, a Porto Alegre App é um começo promissor. Se a equipe da Procempa continuar a desenvolver recursos para o aplicativo e ouvir o feedback dos usuários (sem esquecer de criar versões dele para outras plataformas), sem dúvida o investimento terá valido a pena. E, quem sabe, esse seja o primeiro de outros aplicativos da prefeitura? Se a administração municipal continuar a dar atenção para o desenvolvimento deste tipo de solução digital, sem dúvida se verá cada vez mais recursos aproximando-a da vida dos cidadãos.


O que o S.O.P.A. representa

A última atitude do legislativo norte-americano e da chamada “indústria do copyright'” contra a pirataria online é o Stop Online Piracy Act (S.O.P.A.). Proposto pelo representante Lamar Smith e apoiado por um grupo de  congressistas, o S.O.P.A. tem gerado movimentação e protestos, com temores com relação à censura e a recorrente discussão sobre liberdade e direitos autorais na Internet. Atualmente, o projeto está em discussão na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, mas deve ser votado apenas no início de janeiro.

Basicamente, o projeto propõe o bloqueio por DNS de sites que apresentem conteúdo ilegal. Para que um site seja passível de bloqueio são necessários apenas alguns links com denúncias. No caso, se fosse constatado material que infringe direitos autorais no YouTube, por exemplo, através da autorização de um juiz o site inteiro sairia do ar até que o conteúdo fosse removido. Ferramentas de busca retirariam seus links para a página.

O infográfico abaixo, produzido pelo grupo American Censorship (formado, por sua vez, por Electronic Frontier Foundation, Creative Commons, Mozilla, Public Knowledge, Free Software Foundation e outros) resume bem a situação.

Apoiando a medida estão as organizações em defesa do respeito irrestrito aos direitos autorais, tais como a MPAA (Motion Picture Association of America), a RIAA (Recording Industry Association of America), produtoras e gravadoras em geral e várias outras. De fato, esta lista reúne dezenas de empresas, com seus contatos, que apoiam o S.O.P.A. (entre elas, Apple e Microsoft).

Nos últimos dias, a Web se encheu de protestos contra a medida, cuja votação se aproxima.  Google, Facebook, Mozilla, Zynga, eBay, Twitter, Yahoo, LinkedIn e AOL veicularam, inclusive, um anúncio de página inteira no New York Times contendo uma carta destinada ao Congresso norte-americano, pedindo que sejam consideradas outras medidas para combater a pirataria online, menos prejudiciais para o ecossistema do meio digital. Argumentam que este é um dos setores que mais têm alavancado a economia americana nos últimos tempos de crise, com geração de empregos, renda e novas empresas, e um ato como o S.O.P.A. seria fatal para este desenvolvimento.

Com a entrada destas gigantes da tecnologia na briga, o futuro da proposta é incerto. Mesmo com atores de peso fazendo um contrapeso, se especula que a medida será aprovada, uma vez que o lobby a seu favor tem sido muito intenso, vindo de uma indústria ferida, que só começou a lucrar com a Internet recentemente e ainda não viu resultados eficazes contra a pirataria.

Na mesma linha, está para ser votado no Senado o Preventing Real Online Threats to Economic Creativity and Theft of Intellectual Property (PROTECT IP) Act, que impediria provedores, empresas de pagamento digital e mecanismos de busca de se relacionarem com websites com conteúdo ilegal. De acordo com a agenda do Senado norte-americano, a proposta irá à votação no dia 24 de janeiro.

O bloqueio preconizado pelo S.O.P.A. seria parecido com o que acontece em governos totalitários, como China e Irã. Ao apoiarem a medida, os Estados Unidos abrem porta para que países em todo o globo legislem com a mesma inclinação, daí a importância da discussão em torno do tema (sem contar que o S.O.P.A. mira sites estrangeiros). Além disso, projetos como Tor (iniciativa para navegação anônima, sobre o qual escrevi aqui) também seriam prejudicados. De um modo geral, o S.O.P.A. deixa a Internet inteira mais fechada, ignora o conceito de “uso justo” e aumenta preocupações sobre o uso dos dados dos internautas e sobre até onde vai o poder de governos e provedores sobre a navegação. Propostas neste estilo vêm e vão, mas o S.O.P.A. e o PROTECT IP receberam um lobby intenso. Elas já tiveram partes de seu texto suprimidas, e talvez só recebam aprovação assim, mais brandas, mas apenas janeiro trará o destino da medida, e o resultado da queda de braço entre as empresas e a indústria do entretenimento.


O fim do Flash Mobile

Os últimos dias trouxeram algumas definições para o uso do Flash. No dia nove, a Adobe anunciou que interromperá o desenvolvimento do conhecido, mas ultimamente questionado, Flash Player em dispositivos móveis. Nesta segunda-feira, a Google afirmou que o seu último sistema operacional móvel, o Ice Cream Sandwich, ainda não tem suporte para Flash, mas que ele será lançado “em breve”. Ao que tudo indica, esta deve ser a última versão major do sistema a oferecer suporte à tecnologia.

Desde o anúncio do iPhone, lá em 2007, e principalmente após o lançamento do iPad, no início de 2010, criou-se uma polêmica em torno da necessidade e do uso da tecnologia Flash em dispositivos móveis. Steve Jobs, definitivo como sempre, afirmou que o Flash estava morto. Por outro lado, o W3C voltou a desenvolver a linguagem HTML por volta de 2007 (com muito apoio da própria Apple), resultando no desenvolvimento do tão comentado HTML5.

Muitos afirmam que o HTML é um bom substituto para o Flash. Mais leve, sem necessidade de plug-ins e presente em dispositivos móveis, deveria ser o padrão a ser usado no futuro. Mas a questão não é tão clara assim. Já ouvi de profissionais especializados que fazer hoje com HTML 5 o que se faz com o Flash é impossível. Desenvolvido há bem mais tempo, o Flash ainda tem um potencial muito grande para gerar experiências recompensadoras aos usuários, especialmente após o lançamento de sua última versão, o Flash Player 11. Muito se argumenta que o HTML5 é uma alternativa mais poderosa, já que não necessita de plug-ins e, logo, seria lido em qualquer browser. No entanto, é importante ter em mente que apenas os navegadores mais novos leem HTML5. Não apenas isso, mas alguns recursos funcionam apenas nas últimas versões desenvolvidas, e alguns itens experimentais funcionam apenas no Google Chrome etc. Querendo ou não, a imensa maioria dos navegadores ainda lê Flash, e bem. Afinal de contas, o Internet Explorer 6 continua por aí.

Mas é importante observar a declaração do líder de relações com desenvolvedores da Adobe, Mike Chambers. De acordo com ele, mobile não é o lugar certo para o Flash. O desenvolvimento de Flash Players para navegadores móveis é muito mais trabalhoso do que para desktop. Além disso, e isto é fundamental, dispositivos móveis requerem uma experiência diferente, e o tamanho da tela, a dependência em redes 3G ou 4G e a força das lojas de apps tornaram o Flash “menos relevante”. Ainda por cima, a Adobe também aposta no HTML5 (lançaram recentemente o Edge, um editor de animações para a linguagem), e interromper os esforços de uma linguagem de certa forma concorrente facilita a investida da empresa na área.

Ponto para quem acreditava que mobile não era o lugar certo para visualizar Flash, mas ponto também para quem crê que o Flash ainda está longe do fim.

Bônus

Aproveitando, seguem dois exemplos bem legais de site, um em cada linguagem.

HTML 5 – Draw a Stickman

Flash – Map of Metal


O que rolou com Uricchio e Casalegno no Seminário Internacional da Comunicação

Computadores pessoais são máquinas para realizar tarefas, envolvem isolamento e não são próprios para a sociabilidade. Já smartphones envolvem um “novo paradigma da tecnologia móvel”, pois admitem e estimulam interação, são dispositivos para a comunicação e são periféricos, não isolados. Esta distinção fez parte da fala do pesquisador de mídia e tecnologia Federico Casalegno nesta quinta-feira, dia 17, no Seminário Internacional de Comunicação, realizado pela PUCRS e que se encerrou neste dia 18. Casalegno, diretor do Mobile Experience Lab e diretor associado do Design Laboratory da mesma instituição falou juntamente com o colega Willian Uricchio, também pesquisador do MIT e diretor do Comparative Media Studies Program. Ambos abordaram as interações homem-máquina e comentaram algumas iniciativas de pesquisa em comunicação digital.

Mediação do encontro foi do professor Eduardo Pellanda

Federico Casalegno fez um resgate histórico da relação dos povos com a informação. Nas sociedades orais, os atores compartilhavam o mesmo pano de fundo cultural e lugar físico. No entanto, a intenção de guardar informações para melhor disseminá-las já é antiga, e em sociedades pré-colombianas já existiam dispositivos usados para “embedar” e compartilhar histórias. Depois, quando as sociedades mudaram para o paradigma da escrita, as comunidades passaram a ser menos dependentes dos locais físicos, e os fluxos de informação se flexibilizaram, nesse sentido.

Uma das grandes questões que permeiam o trabalho do Mobile Experience Lab, na verdade, é como projetar recursos que proporcionem interação, mas, ao mesmo tempo, também suportem conexões geolocalizadas?

Um dos projetos mais bem-sucedidos a dialogar com esta problemática é o Locast, desenvolvido desde 2009 e que já teve cinco edições, sendo uma delas em Porto Alegre. Trata-se de uma plataforma de publicação e captação de conteúdo, baseada em mobile e na Web, destinada a agrupar conteúdo geolocalizado gerado por usuários, gerando experiências hiperlocais. Casalegno abordou ainda ideias de novas aplicações da plataforma, uma delas envolvendo um mapeamento das memórias da imigração italiana em Boston, o que poderia ser extendido com a comunidade italiana do Rio Grande do Sul.

Outro projeto muito interessante citado pelo pesquisador é a Workshop Internacional de Formação de Treinadores: Ampliando Vozes da Juventude com Tecnologia Geográfica, realizada em Agosto. Em parceria com a Unicef, jovens e adolescentes receberam tecnologia para mapear riscos ambientais e outros pontos de interesse em suas comunidades. Foram utilizados tantos smartphones com GPS para localizar e mapear as áreas, quanto câmeras amarradas a pipas ou balões, para fazer registros aéreos e mostrar os problemas às autoridades.

Estes são dois exemplos bem bacanas de uso de informações geolocalizadas. O Mobile Experience Lab tem um envolvimento muito grande com estudos de uso de mídia cidadã para melhor relacionar as pessoas, além da criação de “camadas de informação” em locais físicos.

William Uricchio tratou de como tecnologias emergentes modificam a forma como representamos o mundo, principalmente na área dos documentários.

De acordo com o Uricchio, que substituiu Henry Jenkins no comando do Comparative Media Studies Program, o documentário é líder na mídia de representação. Sua origem aparece já no início do cinema e da fotografia, ambos essencialmente documentais. Ao juntar a natureza atual do hipertexto com a emergência de um cidadão acostumado a gerar conteúdo a partir de smartphones e outros dispositivos, observa-se uma mudança na ideia de documentário, conforme o pesquisador.

A fala de Uricchio fica muito bem inserida na chamada Cultura da Convergência. Mais do que indicar convergência de mídias e de tecnologias, ela demonstra um posicionamento diferente do público, uma cultura mais ativa, em que os indivíduos se reúnem em torno de conteúdos para disseminá-los e consumi-los socialmente. Além disso, experimentos transmídia como os citados por Uricchio demandam que as pessoas vão atrás das peças de todo o conjunto midiático, para obter uma experiência mais rica. A tendência é que observemos cada vez mais este tipo de estrutura na mídia.

Uricchio cita os documentários que se utilizam de narrativas transmídia como uma das categorias de representação que emergem atualmente. Um projeto bacana que Uricchio cita como exemplo é o Utrecht Interactive. Ele aborda o tratado de Utrecht, prestes a completar aniversário de 300 anos de criação, que regulava questões relativas às colônias da América do Sul e acordava assuntos diplomáticos entre as realezas européias. Ele se utiliza de quatro camadas diferentes de informação, com objetivos diversos, para criar uma experiência completa em torno do conteúdo. Um website que serve de repositório de dados serve de pano de fundo para games e portais de vídeo, com tours interativos na cidade de Utrecht ajudando a levar mais visitantes aos museus. Assim, puderam trazer pontos de vista diferentes, de pessoas e classes diferentes, para públicos diversos sobre um acontecimento que tomou lugar há três séculos.

Outras duas iniciativas destacadas, na linha de documentários colaborativos, são o 18 days in Egypt, que utiliza imagens de mídia cidadã para retratar a última revolta no Egito, e o 8 Billion Lives, que reúne vídeos de curta duração, cada um retratando um dia na vida de alguma pessoa ao redor do mundo. O objetivo é conectar pessoas ao redor do planeta em torno do cotidiano de pessoas comuns, para conhecer as diferenças culturais e disseminar a tolerância.

A fala de Uricchio complementa bem a de Casalegno. Afinal, as iniciativas de documentários transmídia frequentemente envolvem informações geolocalizadas e conteúdos gerados por usuários, questão central para o Mobile Experience Lab. Saber posicionar o conteúdo editorial ao lado do conteúdo participativo, e gerar, no final das contas, uma experiência rica para as pessoas, é um grande desafio que estas pesquisas ajudam a explorar.

Em tempo: eu, a colega Ana Cecília Nunes e o Professor André Pase produzimos um trabalho justamente sobre um documentário transmídia, e o apresentamos no próprio Seminário. Pesquisamos o Inside Disaster, um projeto canadense transmidiático sobre o terremoto que atingiu o Haiti em 2010 e o trabalho humanitário que acontece lá. Assim que acertarmos os últimos detalhes no trabalho, posto ele, ou os slides, por aqui.

*Crédito da foto: Priscila Leal


Quanto pesa a Internet?

Notícia interessante que vi ali no Neowin. Qual o peso de toda a Internet?

Bom, primeiro eles se basearam em um estudo do professor John Kubiatowicz, da University of California em Berkeley, que demonstra que um Kindle com a memória totalmente carregada pesa mais do que um Kindle totalmente vazio. Ele observou que um destes aparelhos guarda dados por aprisionar elétrons. Quando um livro é baixado para o e-reader, o número de elétrons permanece o mesmo, mas a energia usada para armazenar os dados aumenta. A partir da famosa equação de Einstein E=mc², que relaciona massa e energia, ele notou que,ao ganharem energia, os elétrons ganham massa. Assim, ele calculou que um Kindle com capacidade de 4gb totalmente cheio pesa um bilionésimo de um bilionésimo de uma grama, ou um atograma (0,000000000000000001g), mais que um inteiramente vazio.

Pois bem. A partir daí, o pessoal no canal de YouTube vsauce fez vários cálculos para tentar estimar o peso de toda a Internet. Contando que a rede é feita de algo entre 75 e 100 milhões de servidores operantes em todo o globo (e sem levar em conta as informações de computadores pessoais), eles chegaram à singela quantia de 50g. Mais adiante, eles estimam também que todos as informações na Internet, incluindo emails, vídeos, fotos etc. etc. etc. somam 0,2 milionésimos de uma onça.

Neste vídeo, ele conta em detalhes os passos de todo o raciocínio. Vale a pena!


Por dentro do Nokia N9

Apesar de ser um smartphone que nasceu já quase morto, o Nokia N9 parece ser um aparelho muito interessante. Lançado em junho deste ano, ele leva o sistema com kernel Linux MeeGo, que não terá continuidade, uma vez que a companhia finlandesa resolveu apostar todas as suas fichas no Windows Phone 7 e equipar toda a sua linha de smartphones com ele.

Não obstante todas estas questões, a Nokia resolveu divulgar em seu canal do YouTube (que tem trabalhos muito legais, por sinal) um vídeo que mostra uma parte da linha de montagem do modelo. É legal observar a precisão e o cuidado da empresa finlandesa, tida como uma das mais atenciosas ao hardware no setor, mesmo que no software tenha tido falhas ao longo do caminho. Abaixo deste, há o vídeo de apresentação do N9.


Sem dúvida, na batalha dos smartphones e sistemas operacionais este cuidado é um diferencial, ainda mais frente ao lançamento de hoje da empresa: o Lumia 800. Principal aparelho da marca a levar o WP7, ele já está recebendo bons elogios. Um hardware feito com atenção unido a um sistema operacional que ainda está no início, mas já dá a impressão de ser sólido, pode realmente alavancar as cifras da Nokia e da Microsoft. O futuro próximo dirá. E aí vai um bônus, o vídeo de apresentação do Lumia 800.

*P.S.: O blog andou parado por alguns meses, mas agora as atualizações devem voltar. Muito obrigado pelas visitas e comentários!


Passado, presente e futuro da plataforma Android

Rodrigo

O sistema operacional móvel Android, usado em smartphones e tablets e desenvolvido pela Google, tem feito sucesso. Hoje mais aparelhos com ele são ativados do que iPhones, o que demonstra o poder de fogo da plataforma. O entusiasta de software livre Rodrigo Carvalho, na palestra Android, catedral de sucessos, veio ao fisl explicar a trajetória do sistema e o que devemos esperar para o seu futuro.

O Android surge como primeiro sistema operacional móvel de sucesso a incorporar código aberto. “Meu sonho era ter um celular que tivesse Linux, que eu pudesse modificar. O Android foi o primeiro a trazer o Linux móvel para as massas”, explica. Ele surgiu em 2008 e o primeiro aparelho a ser baseado nele foi o HTC G1. O código do programa, no entanto, só viria a ser aberto em 2009. Hoje, ele está nas versões 2.3, para celulares, e 3.0, para tablets.

Há muitas controvérsias, no entanto, em torno do Android. Ele é um sistema aberto que recebe críticas. “O seu desenvolvimento acontece dentro do Google, a portas fechadas. Ninguém externo consegue contribuir, nem os planos da plataforma são divulgados”, afirma Rodrigo. O caso do hacker Cyanogen é conhecido. Ele fazia modificações no sistema para que rodasse no seu HTC G1. O Google descobriu e alegou que ele estava infringindo códigos proprietários. O hacker começou então um movimento para criar substitutos livres a esses códigos.

A versão Honeycomb do Android, específica para tablets, ainda não teve o código liberado. A Google afirma que não o divulgará, porque esperam o lançamento da versão Ice Cream Sandwich, que vai ser unificada entre smartphones e tablets e, aí sim, teria o código aberto.

Assim, o Android usa, conforme Rodrigo, o sistema de desenvolvimento catedral, fechado, ao invés do sistema bazar, colaborativo, do qual o Linux é um bom exemplo. “Eles não usam bazar porque a concorrência no mercado móvel é muito grande. O mundo está numa transição do desktop pra mobilidade, e todos querem uma fatia desse mercado. A Open Handset Alliance, [união de empresas que apóia o Android], quer uma vantagem, quer ter o código antes”, relata o programador.

Mas mesmo com todas estas polêmicas, a fórmula tem feito sucesso. Os motivos são vários. Primeiramente, segundo Rodrigo, ele veio no momento certo. “Os fabricantes precisavam de um competidor para o iPhone, estavam perdendo mercado, assim como as operadoras. O Android era viável e chegou na hora certa”, constata. Por outro lado, mesmo que a Open Handset Alliance mantenha controle sobre o sistema, ela representa um grande respaldo a ele. Além disso, o fato de ter o Java como linguagem também facilitou sua difusão: “muitos criticam o Java, mas é a plataforma mais usada no mundo. Os desenvolvedores acham muito natural, conseguem fazer mais aplicativos. A plataforma é madura”, demonstra ele.

Mas o que esperar para o futuro do Android? A concorrência é muito acirrada no mundo mobile e tanto ele como os adversários tem vários pontos fortes e fracos. Os próximos Androids deverão enfrentar a próxima geração do iPhone (tratada atualmente como iPhone 5 ou iPhone 4S), o Windows Phone 7 unido com os aparelhos da Nokia, a plataforma MeeGo (que não se sabe se decolará ou não) e o webOS, no qual a HP tem investido muito. De acordo com Rodrigo, os defensores do software livre esperam principalmente que ele fique mais aberto. Além disso, pela sua forte capacidade de adaptação, o Android é o que tem mais capacidade de estar em modelos para todos os gostos, incluindo os populares. “A concorrência é forte, mas o sucesso do Android tem dado novos horizontes ao Linux e ao software livre no mundo mobile”, concluiu.

*Este post faz parte das reportagens que fiz na cobertura  do 12º Fórum Software Livre. Este é o link original.


A morte da indústria do copyright

Azevedo

“Quem aqui é pirata? Todos nós somos piratas!”. Foi assim que o especialista em segurança na rede Alberto J. Azevedo começou a palestra Nós somos todos Piratas! O capitalismo é selvagem na tarde de encerramento do fisl12. Azevedo citou estudos sobre o mercado da pirataria de músicas e filmes no mundo e criticou a indústria fonográfica e cinematográfica. Segundo ele, o vice-presidente executivo da MPAA (Associação Cinematográfica dos Estados Unidos, na sigla em inglês), Greg Frazier, teria dito que não estão interessados em democratizar a cultura. “Eles realmente não fazem nenhum esforço para isso”, afirmou.

Através principalmente de um estudo chamado Media Piracy in Emerging Countries (“Pirataria de Mídia em Países Emergentes”, em uma tradução livre), realizado pelo The Social Science Research Council, ele defende que, a pirataria acontece principalmente por preços altos cobrados injustamente pela indústria. “Existem muitas coisas envolvidas no assunto. Não é simplesmente dizer ‘eles estão nos roubando’. As pessoas simplificam muito a pirataria”, argumenta Azevedo.

Assim, o ativista comentou que é impossível parar a pirataria, e que toda a repressão se mostrou inútil: “a indústria do copyright consegue recuperar 2% do investimento em processos contra a pirataria”. Além disso, segundo ele, a questão não está ligada ao crime organizado, em razão da diferença de lucro com relação a outras atividades geridas pelo crime, como, por exemplo, o tráfico de drogas. “Tem a ver com popularidade, não com receita. Se o U2 lança um DVD, e todo o mundo está doido para ver, as pessoas o copiam e vendem. As pessoas não pirateiam por que é caro, mas porque querem ver”, afirma. O atraso e a defasagem na distribuição de filmes, músicas e, principalmente, séries televisivas é outro catalisador para que as pessoas compartilhem conteúdo, de acordo com ele.

Mas o preço, conforme Azevedo, é provavelmente a maior causa do aumento da pirataria. O mesmo estudo avalia o custo de DVDs aqui e em outros países, não simplesmente comparando o preço de balcão, mas o valor dele dentro do poder de compra de cada sociedade. “De acordo com pesquisas, um DVD custa de cinco a dez vezes mais no Brasil do que nos Estados Unidos e na Europa. É um convite para que a pirataria exista”, coloca ele. O nivelamento dos preços de acordo com as economias mais fortes acabaria gerando preços abusivos. “Assim, eles partem do pressuposto de que cada um que comprou um CD pirata teria comprado um original, mas isso não é verdade. A pessoa pode até ter R$ 5 no bolso para comprar na rua, mas nunca vai ter R$ 30 para ir na loja comprar o original”, conclui.

Aliado a esta conjuntura, está o grau avançado da tecnologia atualmente. A distribuição de bits é muito mais fácil que a de átomos, o que simplifica a transmissão de conteúdos de uma forma sem precedentes. Conforme o palestrante, isso modificou a cultura das pessoas, que não pensam mais em ir na casa de um amigo emprestar um livro, por exemplo, mas em mandar um arquivo em PDF por email.

O outro ponto criticado por Azevedo é a grande tributação imposta pelo ECAD, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais advindos da reprodução de músicas. “O Ecad quase cancelou o último show do U2 em São Paulo, porque o Bono se recusou a pagar direitos pra reproduzir as próprias músicas”.

Entre os exemplos de cobrança do Ecad estão 2,5% do lucro bruto de emissoras de rádio e televisão e 10% do lucro bruto de feiras agropecuárias. “Quem já fez evento sabe como é difícil ter lucro, às vezes não se chega a 10% de lucro, e eles querem isso por causa das músicas que tocam de fundo das feiras”, critica. Também devem pagar taxas consultórios médicos e dentários, e hoteis que tocarem músicas em salas de espera e recepções. Em contrapartida, no entanto, o que retorna para os artistas é um valor muito reduzido. Azevedo acrescenta: “O imposto encarece o produto, e somos sempre nós que pagamos a conta”.

O especialista conclui que a conjuntura demonstra principalmente uma coisa: “A indústria do copyright está morrendo, e eu não conheço ninguém que morra calado”. Todas as reclamações e tentativas de acabar com a pirataria seriam, assim, uma forma de protelar o declínio de um modelo de negócios. Ao mesmo tempo, várias condições para o compartilhamento indevido de conteúdo foram criadas ou aumentadas pela própria indústria. “A pirataria é um monstro que ela própria criou”, exalta Azevedo

*Este post faz parte das reportagens que fiz na cobertura  do 12º Fórum Software Livre. Este é o link original.


Marco Civil da Internet e a cultura digital em discussão no fisl

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O publicitário João Carlos Caribé e o ativista das liberdades fundamentais na Internet Paulo Rená subiram a um dos palcos do fisl na tarde do dia primeiro para debater uma questão crucial na democracia brasileira nos últimos anos: o futuro do Marco Civil da Internet.

Para discutir o futuro, no entanto, é necessário conhecer presente e passado. O espírito que envolve o Marco Civil é o de tornar o Estado e o Poder Legislativo mais abertos para o uso da Internet no Brasil. Assim, ele faz parte de uma reação da sociedade contra o Projeto de Lei 84 de 1999, também conhecido como Projeto Azeredo, ou como AI-5 Digital. “Este projeto de lei faz uma abordagem penal da Internet, a enxerga como uma fonte de delitos. A proposta do Marco Civil é abrir os olhos do Estado e torná-lo mais permeável a outros argumentos, como a rede como espaço de expressão, comunicação, aprendizado etc.”, diz Rená.

Assim, o Marco Civil nasceu em 2009, no próprio fisl, quando o então presidente Lula, ao se encontrar com ativistas como John “Maddog” Hall, Richard Stallman e Sergio Amadeu, firmou compromisso de fazer uma legislação brasileira diferenciada para a rede. Conforme Paulo Rená, o Ministério da Justiça levou a ideia a sério e, após muitos estudos, a iniciativa saiu às ruas. O próprio Rená foi gestor do projeto, entre 2009 e 2010: “Basicamente, fizemos um texto de lei e o tornamos público perguntando às pessoas se, com ele, o uso que os cidadãos faziam da Internet continuava satisfatório e adequado”.

Caribé resumiu as virtudes do Marco Civil: “É um projeto feito para garantir as nossas liberdades. Ele tem, por exemplo, clausulas para garantir a neutralidade da rede. Nós sabemos que a rede tem que ser neutra, e sabemos que quem provê acesso à Internet não quer que ela seja neutra. O Brasil é um dos países mais criativos do mundo, temos que manter esse canal de expressão aberto”.

Além do Marco Civil, duas outras leis lutam por espaço na legislação brasileira, segundo os palestrantes: a Lei de Acesso à Informação, que estava no centro da recente discussão sobre a liberação de documentos sigilosos, e a Lei de Proteção a Dados Pessoais.

Rená e Caribé são unânimes. Para o futuro do Marco Civil, é preciso discussão e pressão. “Agora a Casa Civil deve ser pressionada para mandar o Marco Civil pro Congresso. Todo mundo está convidado a pressionar o governo para fazer isso. O público, quem está na Internet, quem vai ver o vídeo depois, todo mundo”, defende Rená, e acrescenta: “O Marco Civil daqui pra frente será o que a sociedade quiser. Se vocês se mexerem e cobrarem este será o futuro, se não, eu creio que nada acontecerá”.

Caribé abordou ainda o movimento Mega Sim, “filho-irmão” do movimento Mega Não (direcionado ao PL 84 e ao vigilantismo em geral na rede). Ele é uma força tarefa que propõe discutir temas importantes da cultura digital brasileira, tais como o Plano Nacional de Banda Larga, a inclusão digital, a liberdade de expressão na rede, além do próprio Marco Civil.

Por fim, coube um alerta: “O PL 84, AI-5 digital, não é o primeiro projeto de lei a afetar nossos direitos online. Leis do gênero são propostas desde 1991, antes de ter Internet no Brasil. A população tem que abrir os olhos para estas tentativas”, conclui Rená.

*Este post faz parte das reportagens que fiz na cobertura  do 12º Fórum Software Livre. Este é o link original.


Jacob Appelbaum discute anonimidade e controle da Internet no fisl12

Jacob

O pesquisador de segurança e liberdade na computação Jacob Appelbaum arrancou risadas do público e falou no fisl no final da manhã do dia primeiro, em palestra concorrida. Alguém aqui confia no seu provedor de Internet? Ninguém? Bom, eu acho que a única maneira de confiar no seu provedor de Internet é se você é o provedor de Internet”, disse ele.

Appelbaum, que também é um dos fundadores do coletivo de hackers Noisebridge e trabalha na Universidade de Washington, já foi detido repetidas vezes por departamentos de inteligência norte-americanos ao tentar entrar ou sair do país em viagem.

Em sua fala, abrangeu principalmente o Tor (The Onion Router), projeto do qual é um dos principais membros. O Tor é uma rede distribuida, que visa promover anonimidade, privacidade e segurança na Internet. No caso, os roteadores da rede são computadores de usuários comuns conectados à Web e rodando o cliente Tor. Isto permite que o usuário navegue com sua anonimidade garantida na Web. A iniciativa não tem fins lucrativos, como comenta Jacob: “nós acreditamos que é impossível manter as pessoas seguras na Internet se houver lucro envolvido. Os dois não podem ficar juntos”. Atualmente, o Tor vem crescendo entre os usuários e ganhando destaque. “Somos o único projeto de anonimidade que é financiado ao mesmo tempo pela Eletronic Frontier Foundation e pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Acho meio estranho, mas é hilário”, conta.

Entre os usuários estão utilizadores domésticos, empresas, ativistas, exércitos e departamentos policiais. “Mas eu não me importo com o que corporações e governos querem, eu me importo com pessoas”, destaca o pesquisador.

Através da instalação do cliente, o Tor direciona o tráfego do computador através de túneis http da rede Tor até o destino, já na rede “convencional”. O endereço IP relacionado é anônimo, o que aparece é apenas o endereço do nó da rede Tor por onde o tráfego saiu. Por ter que transitar aleatoriamente entre os nós, o fluxo pode ser lento. “Um proxy normal de Internet pode reunir todos os dados de quem o utiliza. O Tor usa três camadas (relays), assim, quem vigia pode conseguir apenas um tipo de dado, ao invés de todos”, explica ele. Mais detalhes do funcionamento do serviço disponíveis aqui.

Apesar de sua eficiência, a rede Tor é muito fácil de ser bloqueada. Foi o que já aconteceu na China. Da mesma forma, é fácil proibir o download do cliente. Este bloqueio acontece também no Irã, no Líbano, no Qatar, e em vários outros países. É preciso tomar cuidado: quando se está usando o Tor, censores não podem observar o que está sendo acessado, mas podem ver que o usuário está utilizando o programa.

O Tor pode ser um bom termômetro da situação social em um país. No Egito, por exemplo, antes de fevereiro de 2011, época da revolução, o número de usuários no país árabe subiu de menos de 500 para mais de 2 mil. Hoje, varia entre mil e dois mil. “Um administrador no Egito disse que ninguém devia se preocupar, pois faria tudo o que a lei dissesse, com relação à Internet. Bom, eu me perguntei se ele faria tudo mesmo se isso significasse rastrear os dados dos usuários e caçá-los por isso. Perguntei de novo se ele faria tudo que a lei dissesse. Ele confirmou mais duas vezes. São essas pessoas que estão por trás da Internet. Não podemos permitir isso”, contou. No Brasil, o número de usuários varia entre 3 e 5 mil, mas estes dados são aproximados, e vários acessos podem vir da mesma pessoa.

De fato, o risco de desligamento da Internet é uma preocupação constante não só de Jacob, mas de diversos defensores da liberdade na rede. “Sempre que alguém disser que não vai desligar a Internet, perguntam se essa pessoa tem poder para isso. E se tiver, perguntem o porquê disso. O que eles querem dizer é que não vão desligá-la, até que decidam fazê-lo”, exclama.

Jacob destacou ainda a importância do fisl, e a do engajamento pela liberdade na rede: “Pessoas como as daqui do Brasil têm que ajudar as pessoas no Egito, que precisam. Não deixem ninguém tentar dominar a Internet”.

*Este post faz parte das reportagens que fiz na cobertura  do 12º Fórum Software Livre. Este é o link original.